
Como sobreviver no futuro
Richard Dobbs, Tim Koller e Sree Ramaswamy“E se a educação focasse menos nas habilidades e nos conhecimentos e mais no cultivo de hábitos da mente que os estudantes precisarão para um aprendizado ao longo da vida, a resolução de problemas e a tomada de decisão? E se a educação estivesse menos preocupada com as provas de final de ano e mais atenta em quem os alunos se tornam?” O questionamento instigante do principal pesquisador do Project Zero e educador da Universidade de Harvard Ron Ritchhart faz cada vez mais sentido no mundo atual. Uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial revela que quase 65% dos trabalhos a serem feitos no futuro pelos alunos do Ensino Fundamental sequer foram criados. Tanto o mercado de trabalho quanto nossa base de conhecimento estão evoluindo rapidamente.
Entre o ensino, o negócio e o futuro
Para acompanhar essas mudanças e ensinar os futuros profissionais prosperar em um mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo (do acrônimo em inglês VUCA) — além de cada dia mais conectado e, ao mesmo tempo, fragmentado —, a educação precisa mudar. E ela já mudou. O conhecimento de conteúdos acadêmicos ainda é e sempre será importante, mas as habilidades socioemocionais estão hoje no centro da revolução que ocorre na educação.
Desde 2002, Ritchhart participa do projeto Thinking Routines, que busca criar situações de aprendizagem e estimular hábitos de pensamento em ambientes escolares. A partir das ideias do projeto, os autores Bena Kallick e Arthur L. Costa desenvolveram o conceito Hábitos da Mente, um método em que crianças são estimuladas a abandonar uma forma de pensamento fixa e adotar uma mentalidade de crescimento. A premissa básica da metodologia é a existência de uma série de comportamentos que os humanos utilizam para a resolução de problemas. Os estudos da neurociência a respeito de pensamentos inteligentes comprovam que existe uma constância de comportamento e uma forma de pensar observadas em todas as pessoas, de cientistas e empresários a comerciantes e artistas.
Assim, emerge uma nova proposta de currículo socioemocional, trabalhado com foco nos dezesseis hábitos da mente e transformando escolas em comunidades de aprendizado. Guiados por esse modelo, os alunos desenvolvem em sala de aula tanto diferentes formas de pensar quanto os hábitos da mente em atividades teóricas e práticas. Aliar o trabalho escolar e a educação aos hábitos da mente é a chave para indivíduos mais reflexivos, cooperativos e compassivos, que terão habilidades para resolver problemas sociais, econômicos, políticos e do meio ambiente.
Os dezesseis hábitos da mente podem ser assim descritos:
Trabalhando com os dezesseis hábitos da mente é possível desenvolver pessoas mais reflexivas em suas ações e reações, alterando desde pequenas atitudes até posturas instintivamente mais enraizadas. Os estudantes aprendem a iniciar suas jornadas com reflexão, raciocínio e ação. Tais posturas modificam o comportamento daqueles que agem sem parar para pensar e não valorizam o processo de raciocínio para chegar a uma conclusão baseada em fatos. Também é notável a participação em sala de aula, uma vez que, antes, os estudantes hesitavam em fazer perguntas esclarecedoras para entenderem o processo e desenvolverem uma estratégia de resolução de problemas. O julgamento do não saber ou não entender e o medo de perguntar enfraquecem o descobrimento e só valorizam o resultado final, que não é o objetivo num modelo de hábitos da mente.
Está em curso a valorização de uma nova cultura dentro da escola, de um paradigma pedagógico atualizado e dinâmico capaz de incentivar a criatividade e a curiosidade inerentes aos seres humanos, especialmente às crianças. Escolas no Brasil já fomentam essa revolução, trabalhando com o que Ritchhart elencou como oito poderosas forças culturais que definem a sala de aula inovadora: tempo, oportunidades, rotinas, linguagem, modelagem, interações, ambiente físico e expectativas.
Basicamente, o foco muda do ensino para o aprendizado, das tarefas baseadas em conteúdos estáticos para o desenvolvimento do conhecimento multidisciplinar e socioemocional. No plano pedagógico, tal postura ajuda as crianças a trabalharem em equipe e a desenvolverem habilidades como liderança, pensamento crítico, espírito empreendedor e criatividade. No aspecto social, os alunos aprimoram a empatia e ganham autonomia para trilhar seus próprios caminhos na vida pessoal e profissional.
Aprender os hábitos da mente desde cedo dá aos estudantes as ferramentas para saberem o que fazer e como responder às situações sem respostas prontas. Assim como qualquer empresa líder em seu setor de atuação cultiva uma cultura própria que, ao mesmo tempo, serve de pilar e bússola, escolas vanguardistas também estão desenvolvendo culturas que as sustentem e orientem. Com isso, as crianças passam a aprender com os estímulos do ambiente e os contextos à sua volta, decidindo qual hábito da mente se relaciona às diversas situações. Elas aprendem qual hábito usar em situações similares e vão desenvolvendo padrões de pensamento e resoluções de problemas.
Distante de arcaísmos como a memorização e a simples reprodução de conteúdos, as escolas com mentalidade inovadora estão interessadas em ensinar os alunos a produzir conhecimento. O atributo crítico dos seres humanos inteligentes não é apenas ter a informação, mas saber como agir em posse dela. Com o hábito da mente adequado, uma criança de hoje poderá ter a capacidade e a desenvoltura para se comportar inteligentemente quando confrontada com os problemas do amanhã. No mundo, não faltam problemas, mas pessoas aptas a resolvê-los, sim.
Laura L. Fitzpatrick é autora do livro Words Glow, Minds Grow e educadora da North Broward Preparatory School, na Flórida.
Priscila Torres é diretora-geral e acadêmica das Escolas Concept e membro do Comitê de Educação do Grupo SEB.
Thamila Zaher é diretora executiva do Grupo SEB Educação e membro do Comitê de Educação do Grupo SEB.
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Rafael Santana